Consumo de álcool está associado a lesões cerebrais ligadas à demência, mostram autópsias.

Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) identificou uma associação significativa entre o consumo de álcool e lesões cerebrais relacionadas à demência. Publicado no periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia, o estudo utilizou análises diretas em tecidos cerebrais post mortem de participantes brasileiros, reforçando a evidência de que o álcool pode contribuir para danos cerebrais e declínio cognitivo, mesmo em níveis moderados de consumo.

A importância do método

Ao contrário de estudos baseados em neuroimagem, que costumam apresentar resultados contraditórios, este trabalho se destaca por ter analisado diretamente cérebros de pessoas que faleceram, por meio de autópsias conduzidas pelo Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVO-USP). Ao todo, foram examinadas 1.781 pessoas com mais de 50 anos, com idade média de 75 anos. Para garantir a confiabilidade dos dados, foram excluídos os casos com dados clínicos inconsistentes ou com tecidos cerebrais inadequados.

As autópsias buscaram sinais clássicos de lesão cerebral, como:

  • Arteriolosclerose hialina, uma forma de endurecimento dos vasos que compromete a irrigação cerebral e está ligada à demência vascular.
  • Emaranhados neurofibrilares de tau, estruturas características da doença de Alzheimer.

O que o estudo identificou

Segundo os resultados, tanto o consumo moderado quanto o consumo intenso de álcool (oito ou mais doses por semana), mesmo que interrompido antes da morte, estavam associados a essas alterações cerebrais. Os ex-alcoolistas, em especial, apresentaram:

  • Redução da massa cerebral em relação à altura corporal.
  • Comprometimento das funções cognitivas, conforme relatos de familiares.
  • Aumento de 41% na presença de emaranhados de tau.

Curiosamente, os pesquisadores não encontraram associação entre o consumo atual de álcool (três meses antes do óbito) e a massa cerebral ou as capacidades cognitivas. Isso pode ser explicado por um viés de amostragem: aqueles que ainda consumiam álcool no momento da morte talvez não tivessem desenvolvido complicações graves — como cirrose hepática — que poderiam levar à cessação do consumo.

Desigualdades sociais e reserva cognitiva

A pesquisa também reforça a importância da reserva cognitiva — conceito que se refere à capacidade do cérebro de resistir a lesões neuropatológicas, frequentemente associada ao nível de escolaridade e à estimulação intelectual ao longo da vida.

Segundo Alberto Justo, primeiro autor do estudo, há um contraste marcante entre as populações estudadas em países desenvolvidos e a amostra brasileira. Enquanto participantes dos Estados Unidos e Europa geralmente têm 13 ou 14 anos de escolaridade, no Brasil a média é de apenas 4,8 anos. Essa diferença pode explicar por que populações de países de baixa e média renda são desproporcionalmente afetadas pela demência.

“Essas pessoas que estudamos fazem parte de uma população miscigenada e com baixa escolaridade, o que é raro em estudos do tipo. Elas representam com mais precisão a realidade brasileira”, destaca Justo.

Reforço às diretrizes da OMS

O estudo fortalece a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2023, de que nenhum nível de consumo de álcool é considerado seguro, especialmente devido ao risco aumentado de diversos tipos de câncer. Agora, a pesquisa da USP oferece mais uma frente de preocupação: os efeitos do álcool na saúde cerebral, inclusive com impactos observáveis em pessoas que consumiam quantidades consideradas moderadas.

Com a estimativa de que, nas próximas décadas, dois terços da população com demência estarão em países de baixa e média renda, o estudo reforça a urgência de políticas públicas voltadas à prevenção, educação em saúde e redução do consumo de álcool, especialmente em contextos mais vulneráveis.

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