Conhecida por sua aplicação no setor financeiro, especialmente em transações com criptomoedas como o bitcoin, a tecnologia blockchain vem ganhando espaço em diversas áreas — e a saúde é uma das mais promissoras.
No contexto da saúde, o blockchain tem potencial para proteger, organizar e garantir a confidencialidade dos dados dos pacientes, oferecendo transparência, rastreabilidade e confiança em todo o processo assistencial.
De forma conceitual, o blockchain é uma tecnologia de registro distribuído e imutável, que cria uma cadeia de blocos interligados por criptografia. Cada bloco contém um conjunto de transações e a “assinatura” do bloco anterior, tornando praticamente impossível a alteração dos dados sem o consenso de todos os participantes da rede.
Isso significa que os registros médicos se tornam invioláveis, e o próprio paciente passa a ter controle sobre quem pode acessar suas informações. Qualquer tentativa de alteração é automaticamente detectada e rejeitada pela rede.
Aplicações do blockchain na saúde
1. Prontuário eletrônico e registro de documentos médicos
Com o blockchain, os prontuários eletrônicos podem ser armazenados de forma segura, descentralizada e acessível. Cada atualização gera um novo bloco, sem alterar os anteriores, garantindo a integridade das informações.
Essa estrutura facilita a troca de dados entre hospitais e clínicas, colocando o paciente como o verdadeiro dono das suas informações e reduzindo o risco de quebra de sigilo médico.
2. Rastreamento de medicamentos
A cadeia de suprimentos farmacêutica pode ser monitorada desde a fábrica até a entrega ao paciente. Isso ajuda a combater falsificações, garantir autenticidade e evitar fraudes em prescrições médicas — algo que já vem sendo aplicado por órgãos como o CFM e o Conselho Federal de Farmácia, que utilizam certificação digital para validação de documentos.
3. Consentimento do paciente
O blockchain pode registrar o consentimento informado de pacientes para tratamentos e compartilhamento de dados, assegurando conformidade com leis como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Cada autorização fica registrada de forma imutável, servindo como prova digital e garantindo transparência no uso das informações.
4. Pesquisa clínica e ensaios científicos
Os dados de estudos clínicos podem ser armazenados em blockchain, evitando manipulações e aumentando a credibilidade das pesquisas. A tecnologia permite rastrear cada dado coletado e auditá-lo por agências regulatórias e revistas científicas.
5. Interoperabilidade entre sistemas de saúde
O blockchain facilita o compartilhamento de informações entre sistemas e instituições diferentes, garantindo que os dados do paciente sejam acessados de forma segura, transparente e consentida.
6. Controle contra fraudes
Por ser imutável, o blockchain praticamente elimina a possibilidade de adulteração de registros médicos e relatórios científicos, fortalecendo a confiança na integridade dos dados.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, o uso do blockchain ainda enfrenta desafios, como escalabilidade, custos operacionais e falta de familiaridade técnica em muitas instituições.
Mesmo assim, especialistas apontam que a tecnologia pode transformar o sistema de saúde, oferecendo um nível inédito de segurança, rastreabilidade e autonomia ao paciente.
Soluções baseadas em blockchain devem continuar a se expandir, especialmente com a necessidade de atender às normas de proteção de dados, como o GDPR (na Europa) e a LGPD (no Brasil). À medida que a tecnologia amadurece, espera-se que o blockchain se torne uma peça-chave na saúde digital global.