O uso clínico de lotes de fentanil contaminado resultou em uma das maiores tragédias da saúde na Argentina. O episódio, classificado como um dos “maiores escândalos da história do país”, já contabiliza oficialmente 87 mortes, com outros casos ainda sob investigação.
As mortes começaram a ser investigadas no fim do ano passado, quando pacientes em diferentes hospitais do país, após receberem o analgésico fentanil, desenvolveram infecções bacterianas letais. Apenas em maio, depois de insistência de instituições médicas, as irregularidades vieram à tona.
As autoridades identificaram que pelo menos 300 mil ampolas de fentanil haviam sido infectadas com bactérias resistentes, produzidas por dois laboratórios locais: HLB Pharma Group e Ramallo, ambos sob investigação. Segundo o juiz federal Ernesto Kreplak, as análises encontraram as bactérias Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii tanto nos pacientes mortos quanto nas ampolas.
O caso de Leonel Ayala
Entre as vítimas está Leonel Ayala, professor de Educação Musical, que havia sido internado para tratar cálculos renais. Após complicações cirúrgicas, foi transferido para o Hospital Italiano, em La Plata. Submetido a tratamento com fentanil em abril, Leonel chegou a apresentar sinais de recuperação, mas dias depois seu quadro se deteriorou com febre, falência de órgãos e, por fim, morte causada por infecção bacteriana incontrolável.
No mesmo hospital, pelo menos outras oito pessoas morreram em curto período de tempo, levando médicos a suspeitarem da origem comum: as ampolas de fentanil utilizadas no tratamento.
O drama dos familiares
Familiares das vítimas criaram o grupo virtual “Unidos pela justiça das vítimas do fentanil mortal”, onde compartilham histórias e tentam descobrir se seus entes foram vítimas das ampolas infectadas. Muitos relatam a dificuldade de comprovar os casos, já que o fentanil não é vendido em farmácias e a rastreabilidade dos lotes é inexistente.
Sandra Altamirano, mãe de uma das vítimas, afirma: “O que queremos é justiça, não só em relação aos laboratórios, mas a toda a cadeia de produção. Não entendemos como algo assim pode ter acontecido sem nenhum tipo de controle.”
Investigação em andamento
Mais de 24 pessoas estão sendo investigadas, e os lotes suspeitos foram apreendidos. Enquanto isso, familiares pressionam líderes políticos por protocolos mais rígidos de rastreabilidade e fiscalização de medicamentos.
Apesar da dor e da lentidão da Justiça, os familiares afirmam que não vão desistir de cobrar responsabilidades e impedir que novas tragédias semelhantes ocorram.