O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados preliminares do Censo Demográfico 2022 apontando que o Brasil possuía, naquele ano, aproximadamente 14,4 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que corresponde a 7,3% da população com dois anos ou mais de idade, estimada em 198,3 milhões de pessoas.
A publicação intitulada “Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista – Resultados Preliminares da Amostra” traz um panorama abrangente sobre as condições funcionais da população brasileira, destacando desigualdades regionais, de gênero, faixa etária e cor ou raça.
Perfil demográfico e distribuição etária
Segundo os dados, 45,4% das pessoas com deficiência têm 60 anos ou mais, enquanto entre a população sem deficiência esse grupo representa apenas 14%. O envelhecimento populacional, portanto, se apresenta como um dos principais fatores associados à prevalência de deficiência.
O levantamento também revelou uma maior prevalência entre as mulheres, que somavam 8,3 milhões, em comparação a 6,1 milhões de homens. Em todas as regiões do país, o número de mulheres com deficiência superava o de homens, fenômeno que pode ser atribuído à maior expectativa de vida da população feminina.
Panorama regional e desigualdades socioeconômicas
A Região Nordeste apresentou os maiores índices de prevalência de deficiência, com todos os nove estados acima da média nacional. Destaque para:
- Alagoas: 9,6%
- Piauí: 9,3%
- Ceará e Pernambuco: 8,9%
Fora do Nordeste, o estado do Rio de Janeiro registrou a maior proporção (7,4%). Já as menores taxas foram observadas em Roraima (5,6%), Mato Grosso (5,7%) e Santa Catarina (6,0%).
Segundo Luciana dos Santos, analista do IBGE, embora o Censo ainda não permita estabelecer uma relação direta entre deficiência e renda, estudos anteriores apontam uma correlação entre a deficiência e o acesso limitado a serviços básicos, como saúde, educação e saneamento. A maior incidência no Nordeste, historicamente marcado por baixos índices de desenvolvimento humano, reflete essas desigualdades estruturais.
Distribuição por cor ou raça
A análise por cor ou raça revelou que a maioria das pessoas com deficiência se autodeclarava:
- Parda: 6,4 milhões
- Branca: 6,1 milhões
- Preta: 1,8 milhão
- Indígena: 78 mil
- Amarela: 55 mil
Os dados reforçam a necessidade de políticas públicas interseccionais que considerem também marcadores étnico-raciais na formulação de estratégias inclusivas.
Principais tipos de deficiência identificados
A dificuldade para enxergar, mesmo com o uso de óculos ou lentes, foi a condição funcional mais frequente, atingindo 7,9 milhões de pessoas. Em seguida, destacam-se:
- Dificuldade para andar ou subir degraus: 5,2 milhões
- Dificuldade de destreza manual (como pegar objetos pequenos ou abrir tampas): 2,7 milhões
- Dificuldades relacionadas às funções mentais, afetando comunicação e autonomia: 2,7 milhões
- Dificuldade para ouvir, mesmo com aparelhos auditivos: 2,6 milhões
Cerca de 2,0% da população com dois anos ou mais apresentava duas ou mais dificuldades funcionais simultâneas. O maior índice foi registrado no Nordeste (2,4%).
Conclusão
Os dados preliminares do Censo 2022 reforçam a importância de políticas públicas voltadas à inclusão e acessibilidade. A prevalência significativa de pessoas com deficiência no Brasil, especialmente entre mulheres, idosos e populações de regiões menos desenvolvidas, evidencia a urgência de medidas estruturantes em áreas como saúde, educação, mobilidade urbana e garantia de direitos.
O avanço na coleta e divulgação desses dados permite um diagnóstico mais preciso da realidade da deficiência no país e deve orientar a formulação de ações mais eficazes e equitativas.