Iniciativa visa ampliar a prevenção da infecção por Zika vírus, especialmente em populações de risco. Estudos clínicos ainda estão em fase inicial.
O Instituto Butantan anunciou o desenvolvimento de um novo medicamento à base de anticorpos monoclonais (mAb) com potencial para prevenir a infecção por Zika vírus, especialmente em gestantes. A iniciativa busca oferecer uma alternativa de imunoproteção em situações de risco, contribuindo para a resposta nacional diante de eventuais novos surtos da doença.
Segundo o diretor do Butantan, Esper Kallás, a pesquisa avança com a produção farmacêutica do anticorpo em escala e a preparação para os primeiros estudos clínicos. O anticorpo monoclonal foi licenciado pela Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, após resultados promissores em testes laboratoriais e pré-clínicos com modelos animais.
A molécula foi originalmente isolada pelo imunologista Michel Nussenzweig, que identificou e testou dois anticorpos com alta capacidade de neutralização do Zika vírus. Ambos demonstraram eficácia in vitro e in vivo, o que motivou o licenciamento da tecnologia ao Butantan para desenvolvimento local.
Objetivo: proteção para gestantes e grupos vulneráveis
O foco inicial do projeto é proteger gestantes residentes em regiões de risco. A infecção por Zika durante a gravidez está diretamente associada a graves malformações congênitas, como a microcefalia. Entre 2015 e 2017, período considerado de emergência em saúde pública no Brasil, 4.595 casos de microcefalia foram registrados no país, de acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
“O anticorpo monoclonal anti-Zika seria um medicamento preventivo, uma imunoterapia passiva, onde a mulher receberia um anticorpo pronto para agir contra o vírus. A ideia é oferecer proteção imediata, especialmente em regiões de surto”, explicou Kallás.
Embora o objetivo seja voltado à proteção de gestantes, o anticorpo também poderá ser administrado a qualquer pessoa sob risco elevado de infecção, conforme avanço dos estudos e definição de indicações clínicas.
Etapas da pesquisa e desafios
Atualmente, o desenvolvimento encontra-se em fase pré-clínica. Os próximos passos incluem estudos de escalonamento de dose e análises de segurança. Considerando que testes clínicos geralmente não incluem gestantes nas fases iniciais, o Butantan deverá realizar etapas graduais de avaliação, começando com voluntários saudáveis, passando por pessoas infectadas e, apenas posteriormente, por gestantes.
A fábrica própria do Instituto Butantan será responsável pela produção em escala dos anticorpos, o que facilita o controle de qualidade e a logística da pesquisa.
Segundo Kallás, o anticorpo monoclonal não substitui uma futura vacina contra o Zika, mas poderá complementar sua ação, especialmente em populações que não tenham sido vacinadas ou cuja proteção vacinal tenha diminuído com o tempo. “Nenhum imunizante confere proteção de 100% contra um patógeno. O mAb pode atuar como reforço em situações específicas”, destacou.
Perspectivas futuras
O desenvolvimento do anticorpo monoclonal representa mais um avanço na estratégia do Butantan para fortalecer a autonomia científica e tecnológica do Brasil frente a ameaças infecciosas. A experiência do país com surtos anteriores de Zika reforça a necessidade de soluções preventivas robustas, especialmente para públicos vulneráveis.
A nova tecnologia, se aprovada, poderá integrar um conjunto de ferramentas de saúde pública voltadas à prevenção de infecções virais emergentes, contribuindo para a proteção da saúde materno-infantil e para a mitigação dos impactos de futuras emergências epidemiológicas.