Casal que tentava engravidar há sete anos adota embrião congelado desde 1994 e estabelece novo recorde mundial
No estado de Ohio, nos Estados Unidos, nasceu em 26 de julho um bebê concebido a partir de um embrião que havia sido congelado há mais de 30 anos. O caso estabelece um novo recorde mundial e reacende o debate sobre as possibilidades da fertilização in vitro (FIV) e o destino dos embriões criopreservados.
Lindsey Pierce e seu marido, Tim Pierce, foram os responsáveis pelo nascimento. Após anos de tentativas frustradas de conceber, o casal recorreu ao programa Snowflakes da agência norte-americana Nightlight Christian Adoptions, especializada na “adoção” de embriões – prática comum em contextos religiosos conservadores que atribuem ao embrião o mesmo valor moral de uma vida humana já nascida.
O embrião em questão foi gerado por Linda Archerd em 1994. Na época, ela e seu então marido enfrentavam dificuldades para engravidar e decidiram realizar o tratamento por FIV, ainda em seus primeiros anos de utilização clínica. A tentativa resultou na produção de quatro embriões: um deles foi transferido com sucesso ao útero de Archerd, gerando uma menina saudável. Os três embriões restantes foram criopreservados.
Posteriormente, Linda se divorciou e passou pela menopausa, decidindo então doar seus embriões. Eles foram aceitos no programa Open Hearts, voltado a embriões com longo tempo de armazenamento ou com menor probabilidade de sucesso gestacional.
O casal Pierce foi compatibilizado com os embriões de Archerd. Em 1º de novembro de 2024, dois dos três embriões foram transferidos para o útero de Lindsey, em uma clínica especializada no estado do Tennessee. Um deles resultou em gestação bem-sucedida e culminou no nascimento do bebê em julho de 2025.
Em entrevista à MIT Technology Review, Lindsey Pierce comentou a decisão: “Não entramos [no programa] pensando que quebraríamos recordes. Só queríamos ter um bebê.”
Embriões Criopreservados: questões éticas e científicas
A criopreservação de embriões é uma prática consolidada na medicina reprodutiva. Apesar dos avanços tecnológicos, a maior parte dos embriões transferidos com sucesso ainda é proveniente de armazenamento recente. O sucesso do caso dos Pierce demonstra, no entanto, que embriões congelados por longos períodos podem manter viabilidade biológica.
A adoção de embriões também levanta debates éticos, legais e religiosos. Nos Estados Unidos, ela é regulada por entidades privadas, muitas delas religiosas, que avaliam os perfis de doadores e receptores com base em valores morais.
Ainda que não seja amplamente discutido no Brasil, o tema ganha relevância frente à ampliação das técnicas de reprodução assistida e ao crescente número de embriões armazenados sem destino definido.
O caso do bebê nascido em Ohio simboliza não apenas um marco na história da medicina reprodutiva, mas também um avanço nas possibilidades para casais que enfrentam dificuldades para conceber, oferecendo esperança por meio da biotecnologia e do acolhimento ético dessas novas formas de parentalidade.