O ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi diagnosticado com câncer de próstata avançado, com escore de Gleason 9 e metástases ósseas, conforme comunicado oficial divulgado em 18 de maio. Embora o caso represente um quadro agressivo da doença, o tumor se mostrou sensível à hormonioterapia, o que permite uma abordagem terapêutica direcionada e potencialmente eficaz.
Este diagnóstico chama atenção para um dos tipos de câncer mais prevalentes entre os homens e levanta questionamentos sobre prognóstico, métodos de rastreamento e abordagens terapêuticas. A seguir, explicamos os principais aspectos clínicos e científicos envolvidos.
O que é o câncer de próstata?
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino localizada abaixo da bexiga e à frente do reto, envolvendo a porção inicial da uretra. Sua principal função é a produção do fluido seminal, que transporta os espermatozoides durante a ejaculação.
O câncer de próstata é caracterizado pela proliferação anormal e descontrolada das células prostáticas, que podem formar tumores. Com a progressão da doença, essas células podem migrar para outras partes do corpo, como os ossos, configurando o processo de metástase.
Principais sintomas e rastreamento
Nos estágios iniciais, o câncer de próstata é frequentemente assintomático. Quando sintomas aparecem, incluem:
- Polaciúria (necessidade frequente de urinar, especialmente à noite);
- Urgência urinária;
- Jato urinário fraco ou interrompido;
- Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga;
- Presença de sangue na urina ou no sêmen.
O rastreamento é realizado principalmente por meio do toque retal e da dosagem do antígeno prostático específico (PSA). No entanto, há divergência entre instituições sobre a recomendação de rastreamento sistemático.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) contraindica o rastreamento populacional devido ao risco de sobrediagnóstico e sobretratamento. Já a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda a avaliação individualizada a partir dos 50 anos ou a partir dos 45 anos para grupos de risco (negros e homens com histórico familiar de câncer de próstata).
O escore de Gleason e o grau de risco
Quando há suspeita de câncer, o diagnóstico definitivo é feito por biópsia da próstata, e o tecido coletado é avaliado por um patologista com base no escore de Gleason. Esse sistema classifica as células cancerosas de acordo com seu grau de diferenciação, somando os dois padrões mais prevalentes observados (escala de 1 a 5). A soma gera um escore de 6 a 10.
- Gleason 6 (3+3): tumor de baixo risco e crescimento lento.
- Gleason 7 (3+4 ou 4+3): risco intermediário.
- Gleason 8 (4+4): risco intermediário alto.
- Gleason 9 ou 10 (4+5, 5+4 ou 5+5): tumor de alto grau, crescimento rápido e maior chance de metástase.
O escore Gleason 9, atribuído a Joe Biden, indica um tumor altamente agressivo, com comportamento biológico mais invasivo e maior risco de disseminação sistêmica.
Tratamentos disponíveis e estratégias personalizadas
O tratamento do câncer de próstata depende do estágio da doença, escore de Gleason, nível de PSA, presença de metástases e condições clínicas do paciente.
Para casos menos agressivos (graus 1 e 2), pode-se adotar estratégias como vigilância ativa ou tratamento localizado com cirurgia (prostatectomia) ou radioterapia. Já nos casos de risco intermediário ou alto (graus 3 a 5), como o de Biden, são indicadas abordagens combinadas:
- Cirurgia (prostatectomia radical);
- Radioterapia externa ou braquiterapia;
- Terapia hormonal (bloqueio androgênico), que visa inibir a ação da testosterona, hormônio que estimula o crescimento das células tumorais;
- Quimioterapia, para tumores resistentes à hormonioterapia;
- Participação em ensaios clínicos, especialmente em casos metastáticos refratários.
Nos casos com metástases, como o de Biden, o objetivo passa a ser o controle da doença e a melhoria da qualidade de vida, já que a cura raramente é possível. Nesses cenários, é comum associar hormonioterapia com radioterapia ou novas terapias-alvo.
Impacto e prevalência no Brasil
O INCA estima cerca de 71,7 mil novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil, com aproximadamente 16,3 mil mortes decorrentes da doença. Esses números reforçam a importância de estratégias de detecção precoce, diagnóstico preciso e tratamento eficaz.
Conclusão
O caso do ex-presidente Joe Biden chama atenção para a gravidade do câncer de próstata de alto grau e a necessidade de conhecimento sobre a doença, principalmente entre homens a partir dos 50 anos. O escore de Gleason, embora técnico, é um dos indicadores mais importantes para definir o prognóstico e guiar a conduta médica. Com o avanço das opções terapêuticas, mesmo casos avançados podem ser manejados de forma eficaz, desde que diagnosticados e acompanhados de forma adequada.