Um dos maiores estudos já realizados sobre a relação entre alimentos ultraprocessados e saúde cardiovascular revelou que o consumo frequente desses produtos está associado a maiores riscos de doenças do coração. A pesquisa, publicada na revista The Lancet, acompanhou mais de 200 mil adultos nos Estados Unidos por cerca de 30 anos e analisou os impactos do consumo alimentar ao longo do tempo.
Consumo elevado e risco aumentado
Os participantes responderam questionários sobre dieta a cada dois ou quatro anos, desde o final da década de 1980. Após ajustes para fatores como tabagismo, histórico familiar, sono e atividade física, os resultados mostraram que indivíduos que consumiam mais ultraprocessados apresentavam:
- 11% mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares;
- 16% mais chances de desenvolver doença coronariana;
- Risco ligeiramente maior de acidente vascular cerebral, sem significância estatística.
Em uma análise combinada com outros 19 estudos (totalizando 1,25 milhão de pessoas), o consumo elevado de ultraprocessados esteve associado a:
- 17% mais chances de doenças cardiovasculares;
- 23% mais chances de doença coronariana;
- 9% mais chances de acidente vascular cerebral.
Limitações e relevância
Segundo especialistas, o tamanho e a frequência do acompanhamento tornam este um dos estudos mais robustos sobre o tema. No entanto, há limitações: os questionários originais não classificavam alimentos pelo grau de processamento, e a maioria dos participantes era branca e atuava na área da saúde, o que pode reduzir a aplicabilidade dos resultados a outras populações.
Ainda assim, as evidências reforçam o alerta global sobre os efeitos negativos dos ultraprocessados.
Quais são os maiores vilões?
Os pesquisadores analisaram 10 categorias de ultraprocessados e identificaram dois grupos como principais responsáveis pelos riscos cardiovasculares:
- Bebidas açucaradas, como refrigerantes e ponches de frutas;
- Carnes processadas, como bacon, cachorros-quentes, salsichas e peixes empanados.
Quando essas categorias foram excluídas da análise, a maior parte do risco associado aos ultraprocessados desapareceu.
Em contrapartida, alguns alimentos ultraprocessados, como cereais matinais, pães integrais, iogurtes saborizados e até pipoca industrializada, pareceram não aumentar o risco ou até estar associados a algum benefício cardiovascular. Isso ocorre porque, apesar de processados, podem fornecer fibras, vitaminas e minerais.
O que dizem os especialistas
- Carnes processadas e bebidas açucaradas têm associação consistente com problemas de saúde e devem ser evitadas.
- Alimentos in natura ou minimamente processados — frutas, verduras, legumes, nozes e grãos integrais — permanecem como a base recomendada para uma dieta saudável.
- Outros ultraprocessados devem ser avaliados com cautela, já que aditivos como adoçantes artificiais, conservantes e emulsificantes podem estar ligados a doenças crônicas, como câncer e diabetes tipo 2.
Conclusão
O estudo reforça que nem todos os ultraprocessados têm o mesmo impacto sobre a saúde. Para os especialistas, o desafio agora é diferenciar os produtos mais prejudiciais dos que podem ter algum valor nutricional, assim como ocorreu no passado com as diferentes categorias de gorduras.
Enquanto novas pesquisas avançam, a recomendação central permanece: dar preferência a alimentos frescos e minimamente processados, limitando o consumo de carnes processadas e bebidas açucaradas.