Quando o pai de Penny Ashford recebeu o diagnóstico de Alzheimer aos 62 anos, ela sabia que, cedo ou tarde, a doença poderia afetar também sua própria memória. Aos 50 e poucos anos, Penny começou a ter dificuldades para se expressar — as palavras simplesmente sumiam. Em um jantar, não conseguia terminar uma frase. Desesperada, voltou para casa chorando e disse ao marido: “Tem algo errado comigo. Não consigo falar”.
Hoje, aos 61 anos, sua história é completamente diferente. Graças a uma mudança radical no estilo de vida e ao acompanhamento com exames de sangue inovadores, Penny conseguiu melhorar sua saúde cerebral — e os biomarcadores ligados ao Alzheimer mostraram uma queda significativa.
Ela faz parte de um estudo pioneiro que utiliza biomarcadores no sangue para acompanhar o risco e o progresso da doença. Essa abordagem promete revolucionar o diagnóstico precoce do Alzheimer, substituindo procedimentos invasivos, como punções lombares, e caros exames cerebrais por análises simples e acessíveis.
Biomarcadores no sangue: a nova fronteira do diagnóstico precoce
Os dados preliminares desse estudo foram apresentados na reunião anual da Academia Americana de Neurologia, em San Diego. Chamado BioRAND (Estudo de Biorepositório para Doenças Neurodegenerativas), ele acompanha pacientes por meio de marcadores sanguíneos que indicam a presença de proteínas amiloides, tau e sinais de neuroinflamação — todos associados ao Alzheimer.
A neurologista preventiva Kellyann Niotis, responsável pelo estudo, destaca um diferencial: “A maioria dos estudos usa biomarcadores apenas para diagnóstico. O nosso busca entender como esses marcadores mudam com as intervenções no estilo de vida do paciente.”
Como funciona o teste de sangue para Alzheimer?
Hoje, os principais marcadores observados nesses exames incluem:
- Proteína tau fosforilada (p-tau 217 e p-tau 181): indicam alterações cerebrais típicas do Alzheimer;
- Razão amiloide 42/40: ajuda a prever o risco da doença;
- GFAP e NfL: refletem inflamação cerebral e degeneração neuronal.
Em conjunto, esses marcadores podem oferecer um panorama detalhado da saúde cerebral e identificar o Alzheimer em estágio inicial, com até 90% de precisão, segundo estudos.
Estilo de vida: a chave para frear o Alzheimer
No estudo, 54 participantes receberam orientações personalizadas para controlar a pressão arterial, melhorar a alimentação, praticar exercícios, dormir melhor, reduzir o estresse e equilibrar hormônios e vitaminas. Outros 17 participantes formaram o grupo controle.
Os resultados foram surpreendentes: quanto maior a adesão às recomendações, maiores foram as melhorias nos marcadores sanguíneos.
Penny Ashford, por exemplo, eliminou doces da dieta, adotou a alimentação mediterrânea baseada em vegetais, iniciou treinos intensos de cardio e musculação, além de yoga para aliviar o estresse. Sob orientação médica, também passou a usar suplementos específicos. Ela perdeu 13 kg e ganhou massa muscular — e os exames mostraram isso claramente:
- p-tau 217: redução de 43%
- p-tau 181: redução de 75%
- GFAP: queda de 66%
- NfL: queda de 84%
Além dos números, Penny relatou melhora significativa na memória e na fluência verbal. “Estou tão orgulhosa de mim mesma. Cada progresso me motiva a continuar. Meu pai não teve essa oportunidade — eu me sinto muito sortuda por ter.”
O futuro: um “colesterol do cérebro”
Para o neurologista Dr. Richard Isaacson, um dos autores do estudo, esses exames podem se tornar o “teste de colesterol do cérebro”: uma ferramenta simples e acessível para rastrear o risco da doença antes dos sintomas aparecerem.
Ele ressalta, porém, a importância da cautela. “Ainda há desafios. Os testes ainda variam bastante entre plataformas. Por isso, nosso lema é: ‘Prometa, mas não prometa demais’.”
Mesmo assim, o avanço é promissor. O estudo BioRAND já investiga mais de 125 biomarcadores e projeta levar esse tipo de painel para uso clínico a baixo custo — o que pode democratizar o acesso ao diagnóstico e à prevenção do Alzheimer.
Conclusão
A ciência está abrindo novas portas para um diagnóstico precoce, mais acessível e menos invasivo do Alzheimer. E o mais impressionante: os dados mostram que mudar o estilo de vida pode, sim, reverter alterações cerebrais ligadas à doença. Penny é prova viva de que, com conhecimento, acompanhamento e esforço, é possível escrever uma nova história.