A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou recentemente o primeiro dispositivo de autocoleta para rastreamento domiciliar do câncer de colo do útero. O equipamento, chamado Teal Wand, foi desenvolvido pela empresa Teal Health e permitirá que mulheres realizem a coleta de amostras vaginais em casa, com posterior envio para análise laboratorial de HPV — o principal agente associado ao desenvolvimento da doença.
O Teal Wand recebeu em 2023 o status de “dispositivo inovador” da FDA, o que permitiu uma tramitação acelerada de sua aprovação. A coleta domiciliar exige prescrição médica e o kit será inicialmente disponibilizado no estado da Califórnia, com previsão de expansão para todo o território norte-americano nos próximos meses.
Como funciona o dispositivo
O processo de autocoleta envolve o uso do Teal Wand para a obtenção de amostras cervicais, que são então enviadas a um laboratório para realização do teste de HPV de alto risco — neste caso, o teste Cobas, desenvolvido pela farmacêutica Roche. Os resultados serão analisados por profissionais da saúde, que farão os encaminhamentos necessários caso haja diagnóstico positivo para HPV.
Segundo a CEO da Teal Health, Kara Egan, estudos clínicos demonstraram que a autocoleta tem eficácia semelhante à coleta feita em ambiente clínico por profissionais de saúde, o que torna o método uma alternativa confiável e mais acessível para muitas pacientes. A empresa também está em tratativas com operadoras de saúde para incluir o kit entre os procedimentos cobertos por planos de seguro.
Impacto na saúde pública
A aprovação do dispositivo representa um avanço significativo em saúde preventiva, especialmente diante do fato de que uma parcela relevante da população feminina ainda não realiza o rastreamento de forma regular. De acordo com a American Cancer Society, a maioria dos casos de câncer de colo do útero ocorre justamente em mulheres que nunca realizaram o exame ou estão com o rastreamento desatualizado.
A autocoleta oferece uma alternativa viável para aquelas que enfrentam barreiras logísticas, desconforto com o exame tradicional ou falta de acesso a profissionais de saúde, aumentando o potencial de cobertura populacional e detecção precoce da doença.
Rastreamento e prevenção
O rastreamento do câncer de colo do útero é fundamental, pois os estágios iniciais da doença são geralmente assintomáticos. A detecção precoce pode permitir tratamentos menos invasivos e maior chance de cura.
A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) recomenda:
- Citologia cervical (Papanicolau) a cada 3 anos para mulheres de 21 a 29 anos;
- Para mulheres entre 30 e 65 anos, o rastreamento pode ser feito:
- A cada 3 anos com citologia cervical,
- A cada 5 anos com teste de HPV de alto risco,
- Ou a cada 5 anos com ambos os testes combinados.
Além do rastreamento, outras medidas preventivas incluem a vacinação contra o HPV, o uso de preservativos durante relações sexuais e a cessação do tabagismo.
Estima-se que 80% da população sexualmente ativa contrairá HPV em algum momento da vida, sendo que a maioria das infecções regride espontaneamente. No entanto, quando persistem, infecções por cepas de alto risco podem levar ao desenvolvimento de câncer, principalmente o câncer de colo do útero.
Perspectivas futuras
O uso de tecnologias de autocoleta, como o Teal Wand, representa uma nova etapa no acesso a exames preventivos e na autonomia das pacientes sobre seu cuidado com a saúde. A iniciativa é vista com otimismo por especialistas e instituições médicas, que destacam o potencial da inovação para ampliar a cobertura de rastreamento e reduzir a mortalidade por câncer de colo do útero.