Nos últimos quatro anos, o número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil aumentou 42%, somando mais de 290 mil procedimentos. No entanto, apenas 10% foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto a grande maioria foi realizada por planos de saúde e no setor privado. A realidade ainda é desafiadora para quem mais precisa desse tipo de cirurgia, principalmente devido às longas filas de espera no sistema público.
Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou suas diretrizes e ampliou o público elegível para a cirurgia bariátrica. Agora, pacientes com IMC a partir de 30 — e não mais de 35 — e adolescentes também podem ser indicados para o procedimento. A busca mudança atende aqueles que, mesmo com obesidade grau 1, apresentam complicações graves à saúde.
Panorama das Filas no SUS
Apesar da ampliação da elegibilidade, as filas para cirurgia bariátrica no SUS continuam mais longas. Em alguns hospitais públicos, os pacientes aguardam até nove anos. No estado do Rio de Janeiro, o tempo médio de espera foi limitado de 1.300 dias, em 2023, para 403 dias em 2024. Em São Paulo, 2.033 cirurgias foram realizadas em 2024, contra 1.434 em 2023.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo destaca que uma jornada para a cirurgia envolve, no mínimo, dois anos de acompanhamento clínico específico, para garantir a indicação adequada do procedimento. Houve ainda um crescimento de 80% no número de cirurgias feitas por videolaparoscopia, com investimento de R$ 11,3 milhões do Tesouro estadual para apoiar hospitais filantrópicos.
Apesar dos dados estaduais, o Ministério da Saúde ainda não possui uma estimativa nacional oficial da fila. Um novo sistema de regulação, que tornará obrigatória a notificação dos registros de regulação assistencial, entrega a operar a partir do segundo semestre de 2025, o que permitirá o mapeamento completo das filas em todo o país.
Sonhos e Desafios dos Pacientes
Histórias como a de Jessyka , estudante de pedagogia que sonha em voltar a praticar esportes e brincar com a filha, e Laionise Moraes Crudi , de 34 anos, que aguarda a cirurgia para recuperar sua mobilidade e voltar ao trabalho, ilustram o impacto da esperança. Para muitas pessoas, a cirurgia bariátrica é vista como a única saída para uma vida com mais saúde e qualidade.
A Visão dos Especialistas
De acordo com a médica Cintia Cercato , da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a ampliação da prescrição é um avanço importante. A obesidade passou a ser vista além dos números do IMC, levando em conta a gordura visceral e suas consequências metabólicas, como apneia do sono grave, gordura hepática com fibrose e osteoartrose grave.
A abordagem Fernando de Barros , coordenador do Programa de Cirurgia Bariátrica do Hospital São Francisco na Providência de Deus (RJ), também celebra a mudança, apontando que muitos pacientes do IMC entre 30 e 35 sofriam de comorbidades graves e não tinham acesso ao tratamento cirúrgico pelas regras antigas.
A Relação com o Tratamento Farmacológico
Enquanto medicamentos como Ozempic e Mounjaro oferecem resultados promissores sem controle do peso — com redução de até 20% do peso corporal —, o custo elevado os torna inacessíveis para a maioria dos brasileiros. Atualmente, o SUS ainda não oferece tratamento farmacológico para obesidade.
Especialistas defendem que o futuro do tratamento da obesidade deve integrar cirurgia bariátrica e medicamentos potentes para casos mais graves. No entanto, todos concordam que a prevenção continua sendo a estratégia principal: reeducação alimentar e promoção de atividades físicas desde a infância são fundamentais para combater a epidemia de obesidade no Brasil.