O estudante croata Luka Krizanac, de 29 anos, passou por um dos procedimentos mais complexos da medicina: um transplante duplo de mãos. A cirurgia foi realizada na instituição norte-americana Penn Medicine, nos Estados Unidos, e representa uma conquista significativa na vida do paciente, que perdeu as mãos ainda na infância.
Aos 12 anos, Luka desenvolveu uma infecção respiratória grave que rapidamente evoluiu para um quadro de sepse. As complicações foram severas, levando à amputação parcial de suas duas mãos e de dois pés, ambos necrosados durante o processo de combate à infecção.
Dezessete anos após a amputação, o jovem conseguiu realizar o transplante. Atualmente, ele está reaprendendo atividades básicas do dia a dia, como digitar no celular, e começa a retomar parte da funcionalidade das mãos, graças à fisioterapia intensiva e ao acompanhamento médico.
O procedimento é extremamente raro. No mundo, foram realizados menos de 200 transplantes desse tipo, devido à elevada complexidade cirúrgica e aos riscos associados, como infecções, rejeição dos membros e dificuldade na reconexão dos nervos, músculos, vasos e ossos.
Uma cirurgia de extrema complexidade
O transplante de Luka teve duração de aproximadamente 12 horas e mobilizou uma equipe de mais de 20 profissionais de diversas especialidades. A equipe realizou meses de planejamento e simulações para garantir o sucesso da operação.
O maior desafio desse tipo de procedimento consiste em realizar a conexão precisa dos nervos, vasos sanguíneos, músculos e estruturas ósseas, garantindo a circulação e, futuramente, a funcionalidade das mãos transplantadas.
Em entrevista à CNN Internacional, Luka descreveu o procedimento como um divisor de águas em sua vida. “Sinto um profundo sentimento de ser inteiro novamente, como humano”, declarou emocionado.
Desafios ao longo da vida
Além das mãos, Luka também vive sem os pés. No entanto, ele relata que a adaptação a próteses para os pés foi mais simples, especialmente porque as tecnologias disponíveis não exigem tanta precisão e coordenação como as mãos humanas.
Apesar do apoio constante da família e dos amigos, o jovem revelou que, com o tempo, a falta de independência foi se tornando emocionalmente pesada. Desde 2018, ele buscava a realização do transplante, mas o processo foi adiado inicialmente pela pandemia de Covid-19 e, posteriormente, por lesões nas pernas, que aumentavam o risco de infecções.
O processo do transplante
Em janeiro deste ano, surgiu um doador compatível em características como tom de pele, tipo sanguíneo, tamanho e gênero. A partir disso, os preparativos foram rapidamente iniciados.
A circulação sanguínea nas mãos transplantadas foi estabelecida imediatamente após o procedimento. No entanto, a conexão dos nervos exige mais tempo para que as funções motoras e sensoriais sejam restabelecidas, processo que depende de meses, ou até anos, de fisioterapia intensiva e uso de medicamentos imunossupressores para evitar rejeição.
Atualmente, Luka segue em tratamento, com sessões regulares de reabilitação e uso de medicamentos específicos que auxiliam na regeneração dos nervos e na aceitação dos novos membros pelo organismo.
“Quero tirar minha carteira de motorista, cuidar da minha própria vida. Agora, tenho duas mãos saudáveis. É apenas uma questão de tempo”, concluiu Luka, demonstrando otimismo com o futuro.