O Ministério da Saúde anunciou a seleção de 501 médicos especialistas para reforçar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em regiões do Brasil que enfrentam escassez de profissionais. Eles foram escolhidos por meio do programa Agora Tem Especialistas e começam a atuar até o dia 18 de setembro em 212 municípios distribuídos pelos 26 estados e pelo Distrito Federal.
A iniciativa é inédita: pela primeira vez, médicos especialistas foram recrutados para atuar diretamente no SUS. Esses profissionais irão atender em hospitais, policlínicas, centros de diagnóstico e outras unidades da rede pública, fortalecendo especialidades como cirurgia geral, ginecologia, anestesiologia e otorrinolaringologia. O objetivo é ampliar a assistência à população e reduzir os deslocamentos para grandes centros urbanos.
Distribuição regional
Dos médicos selecionados, 67% vão atuar no interior do país. O Nordeste receberá o maior contingente, com 260 profissionais (51% do total). Em seguida, estão o Sudeste (125), o Norte (66), o Sul (26) e o Centro-Oeste (24). Além disso, 25,7% serão destinados a áreas de alta ou muito alta vulnerabilidade, 20% para a região da Amazônia Legal e 9% em áreas de fronteira.
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a iniciativa representa uma mudança estrutural no SUS:
“Precisamos de iniciativas ousadas como o Mais Médicos Especialistas, que vai garantir, pela primeira vez, a atuação de profissionais especialistas no SUS e reduzir o tempo de espera da população por atendimento. Com esse reforço, estados e municípios, que já tinham um grande investimento no serviço, terão suprida a necessidade de especialistas, ampliando o acesso e fortalecendo a rede pública de saúde”.
Perfil dos selecionados
A média de experiência dos médicos é de 12 anos de atuação profissional. Do total, 131 especialistas (26%) trabalhavam apenas na rede privada e agora atenderão pacientes do SUS pela primeira vez. Esse é um dado relevante, considerando que, de acordo com a Demografia Médica 2025, a maior concentração de especialistas no Brasil está no setor privado. Atualmente, apenas 10% atuam exclusivamente no SUS.
Entre as áreas de alocação, 75% dos médicos vão para hospitais públicos, onde realizarão cirurgias, internações e tratamentos como quimioterapia e radioterapia. Outros 18% serão alocados em ambulatórios, realizando consultas e exames como ecocardiograma, colonoscopia, colposcopia e ultrassonografia. O restante atuará em unidades de apoio diagnóstico e terapêutico.
Impacto para os pacientes
Um exemplo concreto é o município de Patos (PB), no sertão da Paraíba. Até então, pacientes precisavam percorrer até 500 km para chegar à capital, João Pessoa, em busca de atendimento especializado. Com a chegada de oito médicos de diferentes áreas, essa distância será reduzida em até 400 km. A expectativa é que o hospital regional da cidade aumente sua capacidade de atendimento em 30%.
Capacitação e incentivo financeiro
Para se integrarem ao SUS, os especialistas contarão com 16 cursos de aprimoramento em áreas como cirurgia, ginecologia, anestesiologia e otorrinolaringologia. O modelo prevê atuação prática, com 16 horas semanais de atendimento e 4 horas semanais de atividades educacionais, sob mentoria de profissionais de excelência da Rede Ebserh e do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS).
Os médicos também participarão de imersões em serviços de referência e receberão uma bolsa-formação de até R$ 20 mil, definida de acordo com o nível de vulnerabilidade social e sanitária da região onde atuarão. O programa tem duração prevista de 12 meses.
Interesse da categoria
O edital despertou grande procura: 993 médicos especialistas se inscreveram. Dos selecionados, 501 iniciam o trabalho imediatamente, enquanto cerca de 400 permanecem em lista de espera, podendo ser convocados em etapas futuras.
Segundo Padilha, além de suprir carências históricas, o programa representa uma oportunidade de formação continuada:
“O perfil dos candidatos revela a qualidade desses profissionais que daremos a cada brasileiro: a média de formação dos selecionados é de 12 anos. Isso mostra a excelência que esses profissionais têm e a possibilidade de se aprimorarem ainda mais no sistema público de saúde com mentoria e acompanhamento de hospitais da Ebserh e do Proadi-SUS”.
Com a chegada desses especialistas, o governo federal espera reduzir desigualdades regionais no acesso à saúde e ampliar a resolutividade do SUS em todo o país.