O Ministério da Saúde, em parceria com a Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS (AgSUS), promoveu uma ação inédita na Aldeia Belém do Solimões, em Tabatinga (AM), onde foram realizados mais de 12,5 mil atendimentos em apenas uma semana.
Com 10,5 mil habitantes, essa é uma das maiores aldeias do Brasil e a primeira a receber um dos cinco mutirões programados para ocorrer entre agosto e novembro de 2024 em territórios indígenas de difícil acesso nos estados do Amazonas, Acre e Mato Grosso.
Objetivo: reduzir desigualdade no acesso à saúde
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou a importância da ação:
“Historicamente, as populações de regiões remotas têm acesso muito dificultado a exames, diagnósticos, cirurgias e consultas com especialistas. O cenário ficou ainda mais grave com a pandemia, mas estamos revertendo essa situação com o ‘Agora Tem Especialistas’, que combate desigualdades de acesso ao atendimento especializado no nosso país”.
O programa tem como meta reduzir o tempo de espera no SUS por serviços de média e alta complexidade, apoiando estados e municípios com ações como esses mutirões.
Serviços ofertados
Entre os atendimentos realizados na Aldeia Belém do Solimões, destacam-se:
- Oftalmologia – consultas, triagem visual, cirurgias de catarata e pterígio, além da entrega de 578 óculos;
- Ginecologia – colposcopia, cauterização, rastreamento de câncer e planejamento familiar;
- Pediatria – avaliação do desenvolvimento infantil, tratamento de doenças infecciosas e combate à desnutrição;
- Clínica geral – atendimento de casos agudos e crônicos, com suporte às Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena;
- Ultrassonografia – exames obstétricos, ginecológicos, de hérnias e abdominais;
- Endoscopia digestiva alta – diagnóstico de gastrite, refluxo e infecção por Helicobacter pylori.
Ao todo, foram 178 cirurgias oftalmológicas, 1,8 mil consultas médicas e 10 mil exames e procedimentos.
Impacto na comunidade
Para Aleidinete Guedes Severiano, moradora local de 43 anos, o mutirão representou um marco:
“Foi uma surpresa boa ver especialistas chegando aqui. É a primeira vez que temos esse tipo de atendimento na comunidade. Antes, eu precisava viajar horas e esperar mais de um ano para fazer um exame. Agora, faço tudo aqui mesmo”.
O enfermeiro Marcel Vieira, responsável pelo pré-operatório das cirurgias oftalmológicas, relatou sua experiência:
“É minha primeira vez na Amazônia e está sendo transformador. O cuidado é completo: internamos, operamos, acompanhamos, entregamos medicação e garantimos o pós-operatório com segurança. Cuidar de quem cuida da floresta é cuidar do futuro do nosso país”.
Centro Cirúrgico Móvel
O mutirão instalou um Centro Cirúrgico Móvel de Saúde Especializada integrado à estrutura local, com equipamentos de última geração para consultas, exames e procedimentos.
Além das ações na aldeia, equipes realizaram triagens fluviais nas comunidades da cabeceira do Alto Rio Solimões, atendendo polos-base como Feijoal, Filadélfia, Umariaçu 1 e Umariaçu 2.
Próximas ações
- Aldeia Morada Nova (Itamarati – AM): de 8 a 17 de agosto, atendendo 1,8 mil indígenas.
- Aldeia Itacoai (Povos Isolados – Vale do Javari – AM): de 29 de agosto a 7 de setembro.
- Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) Xavante (MT) e Alto Rio Juruá (AC): datas a definir.
O diretor-presidente da AgSUS, André Longo, ressaltou:
“Estamos muito empenhados em apoiar o Ministério da Saúde nesse esforço civilizatório para reduzir o tempo de espera por atendimento especializado no SUS”.
Desafio logístico e parceria
O acesso à saúde especializada na Amazônia é dificultado pelo fato de muitas comunidades só poderem ser alcançadas por via fluvial ou aérea.
De acordo com a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), a Atenção Primária é responsabilidade do Ministério da Saúde, enquanto o atendimento especializado cabe a estados e municípios.
Para viabilizar a ação, o governo federal conta com a parceria de organizações como a Associação Médicos da Floresta (AMDAF) e a Associação Expedicionários da Saúde (EDS), que mobilizam equipes voluntárias e estruturas para atuação em áreas remotas.