A farmacêutica e doutora em farmacologia Ana Carolina Ruver Martins, pós-doutoranda da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), liderou um estudo clínico inédito que analisou os efeitos terapêuticos da combinação de THC e CBD – dois dos principais canabinoides extraídos da planta Cannabis sativa – sobre os sintomas motores e não motores da Doença de Parkinson (DP).
O estudo, intitulado “Efeitos da associação dos canabinóides THC e CBD sobre os sintomas motores e não motores da doença de Parkinson: um ensaio clínico, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo”, foi conduzido no Laboratório Experimental de Doenças Neurodegenerativas (LEXDON) da UFSC, com duração de seis meses e participação de 68 voluntários em estágios iniciais a moderados da doença.
Entre os principais diferenciais da pesquisa estão a metodologia rigorosa e o uso de formulação oral padronizada de canabinoides, testada contra placebo. A metodologia “duplo-cego” garante imparcialidade nos resultados, evitando viés tanto por parte dos pesquisadores quanto dos pacientes.
Os resultados revelaram que os pacientes que utilizaram a combinação de THC e CBD apresentaram melhora significativa em sintomas como rigidez muscular, tremores, distúrbios do sono e até mesmo qualidade de vida geral – especialmente entre mulheres, que tiveram melhor resposta ao tratamento.
A pesquisa abre caminhos importantes não apenas para novas abordagens terapêuticas, como também para o avanço na regulamentação do uso medicinal da cannabis no Brasil. Alinhado às diretrizes da Anvisa (RDC 327/2019 e RDC 660), o estudo pode contribuir com dados relevantes para revisões legislativas e ampliação da oferta de tratamentos via Sistema Único de Saúde (SUS).
Além do Parkinson, os pesquisadores do LEXDON já expandem os estudos com canabinoides para outras doenças neurológicas e crônicas, como Alzheimer, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Esclerose Múltipla e Fibromialgia.
Segundo a empresa Kaya Mind, o Brasil já conta com mais de 219 mil pacientes que utilizam produtos à base de cannabis, sendo 97 mil por meio de farmácias e outros 114 mil via associações.
A pesquisadora reforça a importância de combater o preconceito em torno do uso medicinal da cannabis. “Ainda há muitos tabus, mas estamos no caminho certo. É gratificante ver como o canabinoide pode ajudar quando utilizado de forma adequada”, afirma Ruver.
O estudo está em fase de avaliação para publicação em revistas científicas internacionais e marca um importante avanço para a ciência brasileira na área da medicina canabinoide.