A partir dos próximos anos, todos os bebês nascidos na Inglaterra terão seu DNA mapeado ao nascer, como parte de um ambicioso plano do NHS (Serviço Nacional de Saúde). O projeto tem como objetivo principal identificar o risco de desenvolvimento de centenas de doenças genéticas, permitindo uma abordagem preventiva e personalizada da saúde.
O programa faz parte do plano de transformação do NHS para os próximos 10 anos, que será detalhado nas próximas semanas, e inclui um investimento de £650 milhões (equivalente a R$ 4,8 bilhões) em pesquisas genéticas até 2030.
Uma revolução na medicina preventiva
Segundo o secretário de Saúde do Reino Unido, Wes Streeting, a medicina está entrando em uma nova era. “A tecnologia genética permitirá ao NHS estar à frente das doenças, prevendo-as em vez de apenas reagir a elas”, afirmou.
O sequenciamento completo do DNA será feito a partir de amostras de sangue do cordão umbilical, logo após o nascimento. O foco inicial será na triagem para doenças raras que se manifestam na infância e que possuem tratamento eficaz, mas o banco de dados poderá ser usado futuramente para detectar predisposições a diversas outras condições.
Existem atualmente cerca de 7 mil doenças causadas por alterações em um único gene, muitas das quais não são detectadas pelos testes convencionais, como o teste do pezinho.
Como funciona hoje e o que muda
Atualmente, na Inglaterra, os recém-nascidos realizam o teste do pezinho, que detecta nove doenças genéticas graves, incluindo fibrose cística. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o teste do pezinho que identifica sete doenças, como fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito e doença falciforme.
Com o sequenciamento do genoma completo, será possível detectar centenas de doenças genéticas, proporcionando diagnósticos mais rápidos e precisos, além de permitir intervenções precoces que podem salvar vidas ou melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas.
Desafios além da tecnologia
Embora a iniciativa prometa revolucionar a medicina, especialistas alertam para alguns desafios importantes. O geneticista Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick em Londres, destaca que não basta apenas gerar dados genéticos: é fundamental contar com profissionais capacitados para interpretar essas informações e transmiti-las de forma clara aos pacientes e suas famílias.
Ele aponta que há falta de conselheiros genéticos, profissionais especializados em orientar pessoas sobre os riscos, prevenções e implicações dos resultados genéticos. “Não se trata apenas de ter as informações, mas de transmiti-las de forma adequada e útil”, ressalta.
Genômica e inteligência artificial: o futuro da saúde
O governo britânico também anunciou que a genômica, aliada à inteligência artificial (IA), será utilizada para transformar o NHS em um sistema mais eficiente, preditivo e preventivo. O plano inclui ainda o fortalecimento da Genomics England, uma das maiores iniciativas de sequenciamento do mundo, que pretende alcançar 500 mil genomas no banco de dados até 2030.
Para Wes Streeting, o impacto será profundo:
“Na próxima década, podemos transformar o NHS de um serviço que diagnostica e trata doenças para um sistema que as prevê e previne.”
Se bem implementado, esse modelo pode servir de referência para outros países e redefinir o conceito de saúde pública no século XXI.