A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou na segunda-feira (22) uma versão em comprimido de uso diário do medicamento para perda de peso Wegovy, fabricado pela Novo Nordisk. A decisão introduz uma nova alternativa de administração para uma classe de fármacos que transformou o tratamento da obesidade nos últimos anos.
Batizado de Wegovy oral, o medicamento utiliza o mesmo princípio ativo do Wegovy injetável: a semaglutida, substância também presente no Ozempic, indicado para o tratamento do diabetes tipo 2. Até então, tanto o Wegovy quanto o Ozempic eram administrados exclusivamente por meio de injeções semanais, assim como o medicamento concorrente Mounjaro, da Eli Lilly.
De acordo com dados do grupo de pesquisa em políticas de saúde KFF, cerca de um em cada oito adultos nos Estados Unidos afirma estar utilizando atualmente algum medicamento dessa classe, que imita a ação do hormônio GLP-1.
Ensaios clínicos demonstraram que o comprimido de Wegovy apresentou resultados de perda de peso e perfil de efeitos colaterais semelhantes aos da versão injetável. Segundo a Novo Nordisk, o medicamento estará disponível sob prescrição médica nos EUA a partir de janeiro. Em entrevista à CNN, Jason Brett, diretor médico da Novo Nordisk nos Estados Unidos, afirmou que a nova apresentação deve ampliar o acesso ao tratamento. Segundo ele, parte dos pacientes evita terapias injetáveis, o que torna a versão oral uma alternativa relevante.
O preço inicial do Wegovy oral será de US$ 149 para pacientes que pagarem do próprio bolso, conforme acordo anunciado em novembro com a administração Trump. A expectativa é de que o valor aumente conforme a progressão das doses, embora os preços das doses mais altas ainda não tenham sido divulgados. Pacientes com cobertura do plano de saúde tendem a pagar uma coparticipação menor.
O Wegovy oral é um dos dois medicamentos orais de GLP-1 que devem chegar ao mercado nos próximos meses. O outro é o orforglipron, desenvolvido pela Eli Lilly, que ainda aguarda nome comercial e pode ser aprovado pela FDA até o verão do hemisfério norte.
Embora não tenham sido comparados diretamente, estudos separados mostraram que o comprimido de Wegovy promoveu perda média de peso de 14% ao longo de 64 semanas, contra 2% no grupo placebo. O orforglipron apresentou perda média de 11% em 72 semanas na dose mais alta, também em comparação com 2% no grupo placebo. Em estudos anteriores, a injeção de Wegovy demonstrou perda de peso de 15%, enquanto o Zepbound, da Lilly, alcançou 21% na dose mais alta, frente a 3% no grupo placebo.
Os efeitos colaterais mais comuns associados aos medicamentos de GLP-1 são gastrointestinais, como náusea e vômitos. Nos estudos com o Wegovy oral, 7% dos participantes interromperam o tratamento devido a efeitos adversos, em comparação com 6% no grupo placebo. No ensaio do orforglipron, até 10% dos pacientes descontinuaram o uso, frente a 3% no grupo controle.
Uma das diferenças relevantes entre os medicamentos está na forma de administração. O comprimido de Wegovy deve ser ingerido em jejum, com pequena quantidade de água, e o paciente deve aguardar 30 minutos antes de comer, beber ou tomar outros medicamentos. Uma versão oral da semaglutida para diabetes, chamada Rybelsus, também da Novo Nordisk, teve menor adesão justamente por essa exigência. Já o orforglipron pode ser tomado uma vez ao dia, em qualquer horário, sem restrições alimentares, segundo a Eli Lilly.
Para o analista financeiro Evan Seigerman, da BMO Capital Markets, esse fator de conveniência pode favorecer o medicamento da Lilly no futuro. Ele avalia ainda que médicos e pacientes podem utilizar os comprimidos principalmente na fase de manutenção do peso, após o platô de perda obtido com as injeções.
A endocrinologista Judith Korner, diretora do Centro de Controle Metabólico e de Peso da Columbia University Vagelos College of Physicians and Surgeons, afirma que a escolha de novos medicamentos depende de três fatores principais: eficácia, segurança e custo. Para ela, o Wegovy oral não altera substancialmente esses parâmetros, especialmente considerando que a dose inicial, mais barata, raramente é a utilizada a longo prazo.
Apesar disso, Korner destaca os benefícios adicionais observados com os medicamentos da classe GLP-1, que vão além da perda de peso. Entre eles estão a redução de eventos cardiovasculares, melhora da apneia do sono, diminuição da insuficiência cardíaca e melhora da função hepática, fatores que tornam essa classe terapêutica especialmente promissora.

