A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) acaba de publicar uma atualização significativa em suas diretrizes para o tratamento do câncer de mama em estágio inicial, com foco na cirurgia de linfonodo sentinela. O novo guideline, publicado no Journal of Clinical Oncology em abril, contou com a colaboração de pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá, Nigéria e do Brasil — este último representado pelo mastologista Henrique Lima Couto, da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
A atualização recomenda que, em determinados casos, a biópsia do linfonodo sentinela pode ser omitida, sem prejudicar o tratamento. Estima-se que cerca de 20% das pacientes com câncer de mama poderão se beneficiar da nova diretriz, evitando uma cirurgia que pode causar efeitos colaterais significativos.
O linfonodo sentinela é o primeiro linfonodo para onde o câncer tende a se espalhar a partir do tumor primário. Por décadas, a retirada desse linfonodo na axila era prática comum em casos de carcinoma invasivo. No entanto, até 10% das pacientes submetidas a esse procedimento desenvolvem dor crônica, linfedema ou limitação de movimento do ombro, segundo Lima Couto.
A nova diretriz foi construída após uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados, incluindo mais de 200 questionamentos de especialistas ao redor do mundo e análises externas. O trabalho durou um ano e meio e resultou em um documento robusto e validado por múltiplos centros de referência internacional.
Quais pacientes podem ser poupadas da cirurgia?
Segundo a ASCO, a recomendação de não realização da biópsia de linfonodo sentinela se aplica às mulheres que:
- Estão na pós-menopausa (50 anos ou mais)
- Possuem tumores luminais com receptores hormonais positivos
- Apresentam tumores menores que 2 cm
- Têm axila clinicamente negativa e ultrassonografia axilar normal
- Serão submetidas a tratamento conservador da mama com radioterapia e hormonioterapia
Para mulheres acima de 65 anos, a radioterapia pode ser opcional, desde que o tratamento com hormonioterapia seja mantido.
“Pela primeira vez, uma sociedade internacional de peso recomenda abandonar a cirurgia axilar para um grupo específico de mulheres com câncer de mama invasor, sem necessidade de compensação com radioterapia ou tratamento sistêmico adicional,” destaca Henrique Lima Couto.
A participação da SBM nesse guideline é um marco na integração do Brasil com as decisões científicas globais. A nova diretriz representa um avanço significativo tanto para a qualidade de vida das pacientes, quanto para a prática clínica oncológica.