Um estudo recente publicado no periódico NEJM Evidence em 23 de junho aponta que a semaglutida, princípio ativo presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy, pode trazer benefícios relevantes para pessoas com diabetes tipo 1, além dos já conhecidos efeitos na diabetes tipo 2 e no controle da obesidade.
A diabetes tipo 1 é uma doença crônica autoimune caracterizada pela destruição das células produtoras de insulina no pâncreas, o que impede o organismo de fabricar o hormônio essencial para o controle da glicemia.
No estudo, 72 pessoas com diabetes tipo 1 e obesidade foram acompanhadas durante 26 semanas. Metade dos participantes recebeu injeções semanais de semaglutida, enquanto a outra metade recebeu placebo. Todos continuaram utilizando insulina, e os níveis de glicose foram monitorados continuamente.
Os resultados mostraram que os pacientes tratados com semaglutida passaram mais de 70% do tempo com níveis de glicose dentro da faixa-alvo, apresentaram menos episódios de hipoglicemia e registraram uma redução mínima de 5% no peso corporal. Já os participantes que utilizaram placebo não conseguiram atingir esses três marcos simultaneamente.
Segundo Viral Shah, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Indiana, a descoberta é um passo significativo. “Por cem anos, estivemos focados apenas na insulina, e ainda não existem medicamentos aprovados especificamente como complemento para a diabetes tipo 1”, afirmou.
Embora diabetes tipo 1 e tipo 2 tenham origens distintas, há sobreposição em alguns casos, especialmente em pacientes com obesidade que desenvolvem resistência à insulina, quadro conhecido como “diabetes duplo”. Nestes casos, medicamentos desenvolvidos para diabetes tipo 2, como a semaglutida, podem oferecer benefícios adicionais.
Os agonistas do receptor GLP-1, classe à qual pertence a semaglutida, atuam reduzindo a produção de glicose no fígado, retardando o esvaziamento gástrico e aumentando a saciedade, auxiliando no controle glicêmico e na perda de peso. Além disso, proporcionam efeitos positivos no perfil cardiovascular e na pressão arterial.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais com maior número de participantes e maior diversidade demográfica para confirmar a segurança e eficácia da semaglutida na diabetes tipo 1 antes de uma eventual aprovação formal para esta indicação.
“Se aprovado, será o primeiro medicamento além da insulina disponível para pessoas com diabetes tipo 1, o que representa uma grande inovação no tratamento”, conclui Shah.
O avanço reforça a importância de pesquisas contínuas na busca por novas opções terapêuticas que melhorem a qualidade de vida de pacientes com diabetes tipo 1.