O Reino Unido atravessa uma das temporadas de gripe mais intensas das últimas décadas, impulsionada pela variante H3N2 subclado K do vírus influenza, conhecida popularmente como gripe K. A cepa tornou-se dominante na Inglaterra e na Escócia e antecipou o início da temporada de infecções, que tradicionalmente ocorre após as festas de fim de ano.
Dados da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA) apontam um aumento de 56% nas internações por gripe desde novembro, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Diante desse cenário, voltou ao debate a recomendação para o uso de máscaras em ambientes públicos.
“Precisamos retomar o hábito de, se você estiver tossindo ou espirrando, usar máscara em espaços públicos, inclusive no transporte público, para evitar transmitir o vírus para outras pessoas”, afirmou Daniel Elkeles, um dos principais nomes da saúde pública britânica e chefe da organização NHS Providers, em declaração feita na terça-feira (9/12).
Segundo Elkeles, o país enfrenta “uma cepa de gripe muito agressiva”. Ele defendeu o uso de coberturas faciais por pessoas que estejam doentes, mas ainda precisem se deslocar. A recomendação, no entanto, gerou forte reação de setores conservadores, que passaram a difundir teorias conspiratórias, sugerindo que a medida faria parte de um suposto plano de controle governamental.
A declaração repercutiu em Londres. Integrantes do gabinete do primeiro-ministro reconheceram que o uso de máscaras pode ajudar a reduzir a transmissão do vírus, mas evitaram transformar a orientação em uma recomendação formal obrigatória.
“Existe uma orientação antiga para adotar medidas que ajudem a limitar a transmissão de doenças de inverno quando há sintomas gripais. Isso não é novo, nem se trata de uma ordem. É algo que pode ser considerado para reduzir a disseminação de doenças respiratórias típicas do inverno”, afirmou o governo britânico, segundo o jornal The Guardian.
Mudanças de conduta nos locais de trabalho
Elkeles também recordou as práticas adotadas durante a pandemia de Covid-19 e defendeu o retorno de medidas rigorosas de controle de infecções. “Fomos muito rigorosos no controle de infecções durante a Covid-19. Precisamos muito, muito mesmo, voltar a fazer isso agora”, afirmou.
Ele ressaltou ainda que trabalhadores doentes deveriam ser dispensados sempre que possível. “Acho sensato que colegas aconselhem: ‘Por favor, volte para casa’. Precisamos nos preocupar com essa cepa muito agressiva. Ela se espalha com facilidade. O tempo está quente e úmido, e as pessoas precisam agir com sensatez”, alertou.
Vacinação como eixo central da estratégia
As autoridades reforçam que a vacinação segue sendo a principal forma de proteção contra a gripe. Neste inverno, quase 17 milhões de doses já foram aplicadas no país — cerca de 350 mil a mais do que no mesmo período do ano passado. Paralelamente, estão em andamento investigações para avaliar a eficácia da cobertura vacinal frente ao subclado K.
A pressão sobre o sistema de saúde tem aumentado. Um relatório recente aponta que, na Inglaterra, 1.717 pacientes estão internados diariamente por gripe, incluindo 69 em unidades de terapia intensiva. Trata-se do maior número registrado para este período do ano, antes mesmo do início oficial do inverno.
Autoridades projetam semanas de atenção redobrada até a elevação das temperaturas. A combinação entre vacinação, medidas preventivas e responsabilidade individual é considerada fundamental para reduzir o impacto da gripe K sobre o sistema público de saúde.
Sintomas da gripe K
A gripe K é causada pela variante K do vírus influenza A(H3N2), resultado de mudanças genéticas que alteram a estrutura reconhecida pelo sistema imunológico. Essas modificações dificultam a resposta do organismo e favorecem a disseminação do vírus. A variante tende a circular mais cedo no ano e tem se espalhado rapidamente em diferentes países, o que mantém especialistas em estado de alerta.
Os sintomas seguem o padrão clássico da gripe: febre, tosse, dores no corpo, mal-estar, dor de garganta e dor de cabeça. Em alguns casos, podem ocorrer sintomas digestivos. Embora a manifestação clínica não seja diferente de outras formas de influenza, o elevado número de infecções aumenta o risco de casos graves, especialmente entre idosos, gestantes, pessoas com doenças crônicas e outros grupos vulneráveis.


