Estudo da OMS prevê até 2,9 milhões de mortes e 10,75 milhões de novas infecções por HIV até 2030 devido à redução no financiamento internacional.
Uma nova pesquisa publicada na revista The Lancet HIV alerta para os impactos significativos da redução no financiamento internacional para programas de prevenção ao HIV. Segundo o estudo, a falta de recursos pode resultar em até 10,75 milhões de novas infecções e 2,9 milhões de mortes até 2030, caso os cortes não sejam revertidos.
Realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o levantamento analisou dados de 26 países e utilizou modelagem matemática para projetar diferentes cenários. As estimativas mais críticas apontam ainda para 880 mil novas infecções em crianças e 120 mil mortes infantis nos próximos cinco anos.
Saída dos EUA da OMS e impacto global
O cenário tornou-se mais preocupante após o anúncio, em janeiro, da retirada dos Estados Unidos da OMS, no início do segundo mandato do ex-presidente Donald Trump. Os EUA eram, até então, o maior doador da agência, sendo responsáveis por 75% do financiamento de programas de HIV e outras ISTs no período de 2024 a 2025.
Com o corte abrupto, diversas frentes de combate ao HIV, à poliomielite, à malária e à tuberculose já foram afetadas, principalmente nos países de baixa e média renda.
Regiões mais afetadas
A África Subsaariana concentra a maior parte das populações vulneráveis ao HIV e será uma das regiões mais afetadas pela suspensão dos recursos. De acordo com o estudo, os países com maior impacto incluem:
Albânia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Butão, Camboja, Colômbia, Costa Rica, Costa do Marfim, República Dominicana, Eswatini, Geórgia, Cazaquistão, Quênia, Quirguistão, Malawi, Malásia, Moldávia, Mongólia, Moçambique, África do Sul, Sri Lanka, Tajiquistão, Uganda, Uzbequistão e Zimbábue.
Meg Doherty, diretora de programas globais de HIV da OMS, reforça que a interrupção na cadeia de suprimentos e a escassez de profissionais de saúde já são realidade em diversas regiões, o que compromete seriamente os avanços conquistados nas últimas décadas.
“Este estudo é um lembrete claro de que a cooperação e o financiamento internacionais são essenciais para manter o acesso à prevenção, tratamento e inovação”, afirmou a especialista.
Efeitos sobre o controle da epidemia
A suspensão do financiamento compromete não apenas o fornecimento de medicamentos antirretrovirais, mas também programas preventivos essenciais, como a distribuição de PrEP (profilaxia pré-exposição) e preservativos. O estudo estima que, mesmo mantendo os recursos atuais apenas para garantir o tratamento contínuo, o descuido com a testagem e a prevenção pode resultar em 1,7 milhão de novas infecções.
Além disso, com o aumento da carga viral em pacientes que interrompem o tratamento, a transmissão do HIV tende a se intensificar, elevando os casos de aids e agravando a epidemia global.
Redução de doações e impacto financeiro
Além dos EUA, outros importantes doadores — como Alemanha, Reino Unido, Canadá e entidades privadas como a Fundação Bill & Melinda Gates — anunciaram cortes de 8% a 70% nos aportes a partir deste ano. Apenas o financiamento norte-americano representava 15% do orçamento total da OMS e 72% dos recursos dedicados aos programas de HIV.
Mesmo que os financiamentos fossem retomados imediatamente, o estudo projeta que 61 mil mortes já são inevitáveis como consequência da interrupção temporária dos programas.