A Federação Internacional de Diabetes (IDF) anunciou uma mudança histórica na forma como a diabetes é classificada. A entidade reconheceu oficialmente a diabetes relacionada à desnutrição como uma nova e distinta categoria da doença: a diabetes tipo 5.
A decisão foi comunicada no dia 9 de abril, após anos de estudos liderados pela professora Meredith Hawkins, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, nos Estados Unidos, e fundadora do Instituto Global de Diabetes. O reconhecimento surge como resposta a um quadro que afeta milhões de pessoas em países de baixa e média renda — especialmente adolescentes e adultos jovens magros.
“Esse é um problema devastador e há muito negligenciado. O reconhecimento da diabetes tipo 5 é um passo essencial para que possamos diagnosticar e tratar adequadamente quem vive com essa condição”, afirmou Hawkins.
📌 O que é diabetes?
A diabetes é uma doença metabólica causada pela produção insuficiente ou pela má utilização da insulina, hormônio responsável por transformar a glicose em energia. O desequilíbrio resulta em níveis elevados de açúcar no sangue, o que pode causar uma série de complicações.
Conheça os tipos atualmente reconhecidos:
- Tipo 1: doença autoimune, hereditária e crônica, geralmente diagnosticada na infância ou adolescência.
- Tipo 2: ligada a fatores como sobrepeso, sedentarismo, hipertensão e alimentação inadequada.
- Tipo 3 (ainda não oficial): termo usado para descrever uma possível ligação entre resistência à insulina no cérebro e Alzheimer.
- Tipo 4: forma rara, associada à idade avançada, mesmo em pessoas com peso normal.
- Tipo 5: nova classificação, relacionada à desnutrição, principalmente em regiões da Ásia e África.
🧬 Diabetes tipo 5: quando a falta de alimento é a causa
Diferente da diabetes tipo 2, que está fortemente associada ao excesso de peso, a diabetes tipo 5 tem origem em contextos de pobreza e desnutrição. Estima-se que entre 20 e 25 milhões de pessoas vivam com essa forma da doença no mundo, sem receber diagnóstico ou tratamento adequado.
Segundo Hawkins, os pacientes com esse tipo de diabetes são majoritariamente jovens, magros e não respondem bem à insulina. Em muitos casos, o uso do hormônio pode até causar crises graves de hipoglicemia, tornando o tratamento mais complexo e perigoso.
🧪 Por que demorou tanto para ser reconhecida?
A condição foi descrita pela primeira vez há mais de 70 anos. Em 1985, chegou a ser incluída como uma categoria distinta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas essa classificação foi retirada em 1999 por falta de evidências científicas robustas.
Foi só a partir de 2005 que Hawkins e outros médicos de países em desenvolvimento começaram a reunir relatos semelhantes. Um estudo conduzido na Índia em 2022 identificou que o problema não se deve à resistência à insulina, mas à incapacidade do organismo de secretá-la adequadamente.
“Essa descoberta revolucionou nossa compreensão sobre a doença e abriu portas para novos caminhos terapêuticos”, disse Hawkins.
🌍 Reconhecimento internacional e próximos passos
A oficialização da diabetes tipo 5 ocorreu durante o Congresso Mundial de Diabetes da IDF, realizado em janeiro de 2025, em Bangkok, na Tailândia. Representantes da IDF, da Associação Americana de Diabetes e de diversas instituições globais aprovaram por unanimidade a nova classificação.
A IDF também anunciou a criação de um grupo de trabalho internacional, que nos próximos dois anos irá desenvolver protocolos formais de diagnóstico e tratamento para a condição.
“Essa forma de diabetes é mais comum que a tuberculose e quase tão comum quanto o HIV, mas tem sido ignorada por décadas. Dar um nome a ela é dar visibilidade a milhões de pessoas que precisam de ajuda”, conclui Hawkins.
Conclusão
O reconhecimento da diabetes tipo 5 marca um avanço importante na luta contra doenças negligenciadas em populações vulneráveis. Com a nova classificação, espera-se que haja mais investimento em pesquisa, diagnóstico precoce e tratamentos eficazes.
Ao reconhecer oficialmente essa condição, a comunidade científica internacional dá um passo importante para combater a desigualdade na saúde e ampliar o acesso a cuidados adequados para todos os tipos de diabetes — inclusive aqueles que, até agora, não tinham sequer um nome.