Um estudo publicado na revista científica Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology demonstrou que uma formulação tópica contendo cannabidiol (CBD) e cannabigerol (CBG) pode ser eficaz no tratamento de eczema (dermatite atópica). Os resultados indicam melhora significativa em sintomas como coceira, vermelhidão, hidratação da pele e, em alguns casos, remissão clínica dos sintomas.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade Médica da Silésia, na Polônia, em colaboração com a Universidade De Montfort, no Reino Unido, e envolveu nove pacientes adultos diagnosticados com dermatite atópica. O objetivo foi avaliar os efeitos da aplicação diária de uma pomada com canabinoides na saúde cutânea.
Avaliação clínica e resultados
Durante o período de observação, entre maio e julho de 2022, os participantes aplicaram a pomada no antebraço diariamente antes de dormir, cobrindo o local com um curativo úmido para favorecer a absorção. Os pesquisadores monitoraram indicadores como níveis de sebo, pH da pele, hidratação cutânea e perda de água transepidérmica (TEWL).
Os resultados apontaram para uma:
- Melhora significativa da hidratação da pele
- Redução do eritema (vermelhidão)
- Diminuição da TEWL
- Equilíbrio nos níveis de sebo
Os autores também observaram que os pacientes com maior adesão ao protocolo apresentaram os melhores resultados. Segundo o artigo, “os pacientes que aderiram ao regime tópico de canabinoides alcançaram parâmetros cutâneos satisfatórios, incluindo hidratação normal, equilíbrio do sebo, além da melhora da TEWL e do eritema”.
Composição e propriedades farmacológicas
A pomada utilizada foi formulada com 30% de CBD, 5% de CBG, óleo de semente de cânhamo e colesterol. Os canabinoides têm demonstrado efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e regenerativos, tornando-se alvos de crescente interesse na dermatologia moderna.
Os pesquisadores destacaram, no entanto, que a sazonalidade pode ter influenciado os resultados, já que o estudo foi conduzido durante o verão europeu — período em que os sintomas de eczema tendem a diminuir naturalmente.
Evidências complementares na dermatologia
Este estudo integra um corpo crescente de pesquisas que investigam o potencial dos canabinoides em aplicações dermatológicas. Um estudo recente da Universidade Prince of Songkla, em parceria com a Agência Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Tailândia, demonstrou que o CBD pode atuar como ingrediente funcional em cosméticos, devido às suas propriedades antienvelhecimento, cicatrizantes e antioxidantes.
Outro estudo, publicado no Journal of the American Academy of Dermatology, mostrou que o uso de loções com CBD pode reduzir os danos causados por radiação UV, sugerindo um papel protetor contra o fotoenvelhecimento.
Além disso, o canabidiol tem se mostrado promissor na aceleração da cicatrização de feridas, reforçando seu potencial como agente terapêutico em formulações dermatológicas inovadoras.
Aplicações veterinárias: benefícios também para animais
A eficácia do CBD em doenças de pele não se restringe a humanos. Um estudo publicado na revista Frontiers in Veterinary Science relatou os efeitos positivos do óleo de cannabis em um cão com lúpus eritematoso discóide (DLE) — uma condição autoimune que afeta a pele, provocando lesões, vermelhidão e queda de pelos.
O tratamento foi realizado com óleo full-spectrum (CBD + THC na proporção 2:1), administrado por via oral em dosagem crescente. Em poucas semanas, o animal apresentou melhora significativa tanto nos sintomas dermatológicos quanto nos parâmetros hepáticos.
O estudo também observou mudanças comportamentais positivas após a substituição do corticoide por canabinoides, indicando benefícios adicionais além do controle dos sintomas dermatológicos.
Considerações finais
Os dados apresentados reforçam a necessidade de novos estudos clínicos controlados, com maior número de participantes, para consolidar o papel dos canabinoides em tratamentos dermatológicos. Apesar dos avanços internacionais, o uso de cannabis medicinal na dermatologia ainda encontra barreiras regulatórias no Brasil, especialmente no que diz respeito à formulação e à comercialização de produtos tópicos.
Contudo, o cenário aponta para um futuro promissor. À medida que as evidências se acumulam, cresce a demanda por regulamentações mais abrangentes que permitam acesso seguro e eficiente aos tratamentos com canabinoides para doenças de pele — tanto em humanos quanto em animais.