A infecção pelo HPV está ligada a 98% dos casos de câncer de colo de útero. Saiba como ocorre a evolução e quais são as formas de prevenção.
O câncer de colo de útero, também conhecido como câncer cervical, está diretamente associado à infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV). A doença é considerada evitável por meio de estratégias como vacinação e rastreamento periódico, o que torna a conscientização um elemento-chave na redução dos casos.
Em alusão ao Dia Mundial do Câncer de Colo de Útero, celebrado em 26 de março, especialistas reforçam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce como medidas centrais para o enfrentamento da doença.
O papel do HPV no desenvolvimento do câncer
O HPV é um vírus sexualmente transmissível que, na maioria dos casos, não provoca sintomas e pode ser eliminado espontaneamente pelo organismo. Contudo, em uma parcela dos casos, a infecção persiste e provoca alterações celulares no colo do útero, que podem evoluir para lesões pré-cancerígenas e, posteriormente, para o câncer.
Segundo a oncologista Márcia Datz Abadi, diretora médica da MSD Brasil, cerca de 98% dos casos de câncer de colo de útero estão relacionados ao HPV. Existem mais de 200 subtipos do vírus, sendo pelo menos 14 considerados oncogênicos. Essas variantes podem permanecer latentes nas células da mucosa uterina por anos, até que mutações no DNA viral levem ao desenvolvimento do tumor.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa para o triênio 2023–2025 é de mais de 17 mil novos casos anuais no Brasil. Os principais fatores de risco incluem relações sexuais desprotegidas, tabagismo e uso prolongado de contraceptivos orais.
Diagnóstico e rastreamento
A detecção precoce do câncer de colo de útero é essencial para o sucesso do tratamento. O exame de Papanicolau continua sendo a principal ferramenta de rastreio, especialmente eficaz na identificação de lesões precursoras. Quando necessário, o exame pode ser complementado pela colposcopia e, em casos de alterações, por biópsia para confirmação diagnóstica.
Apesar da disponibilidade desses exames na rede pública, a cobertura ainda é insuficiente. Dados da Associação Umane, com base no SISAB (Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica), indicam que mais de 36 milhões de mulheres deixaram de realizar ao menos um exame preventivo no intervalo de três anos. Em 2023, 21% das mulheres residentes em capitais brasileiras nunca haviam realizado o Papanicolau, conforme informações do Vigitel.
A escolaridade também influencia a adesão ao rastreamento. Entre mulheres com até 8 anos de estudo, 85,7% realizaram o exame. Já entre as com 12 anos ou mais de estudo, a taxa de não realização foi de 15,4%.
Prevenção por meio da vacinação
A principal estratégia de prevenção contra o câncer de colo de útero é a vacinação contra o HPV. Disponível gratuitamente pelo SUS, a vacina é indicada para:
- Meninas e meninos de 9 a 14 anos;
- Pessoas de 9 a 45 anos com HIV, transplantados, pacientes oncológicos ou vítimas de abuso sexual;
- Usuários de PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV), de 15 a 45 anos;
- Pacientes com Papilomatose Respiratória Recorrente a partir de 2 anos de idade.
A vacina também pode ser administrada na rede privada para homens e mulheres até os 45 anos, contribuindo para a prevenção do segundo pico de infecção pelo HPV em mulheres adultas.
A baixa cobertura vacinal segue sendo um desafio. Pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pela MSD Brasil, mostra que 57% das mulheres não vacinadas alegaram falta de informação como principal motivo. Ainda segundo o estudo, campanhas de conscientização foram determinantes para 65% das pessoas que decidiram se vacinar.
“O câncer de colo de útero mata 19 mulheres por dia no Brasil”, afirma a médica Márcia Abadi. “Esse é um dado alarmante e que pode ser revertido com mais informação, rastreamento e vacinação.”
(Com informações CNN)