Durante a 19ª semana de gestação, Fabiana Maria Silveira Saccab, de 41 anos, foi surpreendida com o diagnóstico de leucemia linfoide aguda (LLA), um tipo raro e agressivo de câncer no sangue. O caso ganhou destaque não apenas pela gravidade da doença, mas também pelos desafios clínicos envolvendo o tratamento oncológico em uma gestação em andamento.
Fabiana, que sonhava com uma gravidez tranquila e preparava o aniversário de 10 anos do filho mais velho, Davi, recebeu a notícia enquanto desembarcava nos Estados Unidos. Os exames de rotina apontaram alterações significativas, confirmando o diagnóstico. O impacto emocional foi intensificado pelas memórias de infância: aos 10 anos, ela perdeu a mãe para o mesmo tipo de câncer. Agora, com a filha Sara a caminho e o primogênito na mesma idade que ela tinha na época da perda materna, Fabiana precisou reunir forças para enfrentar a doença.
Após a confirmação do diagnóstico, Fabiana e a família retornaram imediatamente ao Brasil. Ela foi internada no Hospital Samaritano Higienópolis, em São Paulo, onde iniciou três ciclos de quimioterapia ainda durante a gravidez. O tratamento exigiu uma abordagem multidisciplinar para equilibrar a eficácia oncológica e a segurança fetal.
A filha, Sara, nasceu prematura em 3 de julho de 2024, com 29 semanas e 4 dias, pesando 1,2 kg. A bebê permaneceu dois meses sob cuidados intensivos na UTI neonatal, liderada pela neonatologista Teresa Maria Lopes de Oliveira Uras Belém. Felizmente, Sara não apresentou sequelas após o nascimento, mesmo tendo sido exposta a medicamentos citotóxicos durante a gestação.
O que é a leucemia linfoide aguda (LLA)
A leucemia linfoide aguda é um tipo de câncer hematológico que afeta a produção de glóbulos brancos na medula óssea. Entre os principais sintomas estão fadiga, palidez, febre, perda de peso, dores ósseas e tendência a hematomas e sangramentos. O tratamento padrão inclui quimioterapia intensiva, podendo evoluir para transplante de medula óssea em casos específicos.
Durante a gravidez, a LLA representa um desafio adicional. O tratamento só pode ser iniciado com maior segurança após o primeiro trimestre, reduzindo riscos ao feto. No entanto, mesmo assim, são necessárias avaliações contínuas para garantir o equilíbrio entre o tratamento materno e o desenvolvimento fetal.
Tratamento e recuperação
Após os primeiros ciclos de quimioterapia, Fabiana entrou em remissão, mas não pôde realizar o transplante de medula óssea imediatamente devido à gestação. A doença recidivou, exigindo o parto antecipado para possibilitar um novo protocolo terapêutico. Em outubro de 2024, ela recebeu um transplante de medula óssea da irmã mais velha. Após quatro meses de internação, recebeu alta hospitalar.
Casos como o de Fabiana são complexos e raros. De acordo com a neonatologista Teresa Belém, a literatura científica indica que a quimioterapia pode ser administrada após o primeiro trimestre com relativa segurança, mas sempre envolve riscos significativos. O acompanhamento multidisciplinar é fundamental para personalizar o tratamento e monitorar a saúde materno-fetal.
O marido de Fabiana, o cardiologista Phelipe Saccab, acompanhou cada etapa do tratamento. “Minha filha fez quimioterapia dentro da barriga da mãe e não teve nenhuma sequela. Por mais difícil que seja a situação, não podemos perder a esperança”, reforça.
Vida após a alta
Atualmente, Fabiana segue em acompanhamento oncológico contínuo. A filha Sara, agora saudável, já dá os primeiros passos ao lado do irmão Davi, que hoje tem 11 anos. Para Fabiana, cada dia é celebrado como uma vitória. “Foi a maior luta da minha vida, mas olhar para a minha filha e para o meu filho todos os dias me faz acreditar que valeu a pena”, declara.
O caso de Fabiana destaca a importância do diagnóstico precoce, do suporte emocional e da integração entre equipes de oncologia, obstetrícia e neonatologia no manejo de gestantes com câncer. A experiência também evidencia os avanços na medicina materno-fetal, possibilitando que mãe e bebê superem juntos um desafio tão complexo.