Essa semana, o FDA (a Anvisa dos EUA) anunciou o banimento de oito corantes artificiais amplamente usados em alimentos infantis. Vermelho 40, Amarelo 5, Azul 1 e outros, nomes que parecem inofensivos, mas que carregam, há décadas, um legado tóxico dentro das lancheiras e merendas escolares.
E, sinceramente? Era para isso ter acontecido há muito tempo.
Nos atendimentos que faço com crianças, especialmente aquelas com diagnóstico ou suspeita de TDAH, autismo leve ou distúrbios do sono, vejo um padrão alarmante: a alimentação é negligenciada.
Pais preocupados, escolas tentando ajudar, médicos prescrevendo remédios — mas quase ninguém olha para o que essas crianças ingerem todos os dias.
Não é só o que ela come. É o que isso provoca no cérebro.
A neurociência hoje tem evidências sólidas de que corantes artificiais, açúcar em excesso e ultraprocessados desregulam neurotransmissores fundamentais para o desenvolvimento saudável do cérebro.
Por exemplo:
- O Red 40 compromete a função da dopamina, neurotransmissor essencial para atenção, motivação e controle emocional.
- O Yellow 5 aumenta a permeabilidade intestinal, favorecendo inflamações silenciosas.
- O Blue 1 já foi associado a neurotoxicidade em estudos laboratoriais.
- O excesso de açúcar ativa cronicamente o eixo do estresse, alterando humor, sono e comportamento.
Esses desequilíbrios se manifestam na prática: crianças agitadas, irritadas, com dificuldade de concentração e com padrões de sono prejudicados — sendo frequentemente medicalizadas sem que a verdadeira causa tenha sido abordada.
Precisamos de políticas públicas sérias
Não basta apenas informar. Precisamos de projetos que envolvam todas as escolas públicas e privadas do Brasil, com regras claras e duras sobre o que pode ou não pode ser enviado para a escola.
É necessário fiscalização real e ativa.
Não adianta colocar um nutricionista para assinar um plano nutricional e colar o cardápio na parede para os pais verem, como muitas escolas fazem.
Eu já atendi pacientes que, mesmo em escolas “com plano nutricional assinado”, comeram bolachas recheadas e outros ultraprocessados distribuídos sem qualquer controle.
Ou seja: não é sobre fazer por fazer. É sobre fazer o que é certo.
Se não houver fiscalização séria e constante, o país será diretamente lesado e moralmente culpado, pelos prejuízos no neurodesenvolvimento dessa geração.
A infância é uma janela crítica.
O que fazemos (ou deixamos de fazer) hoje definirá o futuro emocional, físico e mental dos nossos adultos de amanhã.
Seguir a ciência. Abandonar os achismos.
Achismo não nutre. Achismo adoece.
Não é querer o bem, dar à criança um alimento ultraprocessado “só porque é gostoso”.
Querer o bem é mostrar, desde o berço, que uma alimentação correta é o primeiro passo para uma vida plena.
Crianças que se alimentam bem desde cedo terão:
- Menor risco de doenças mentais e físicas
- Melhor desempenho escolar
- Mais equilíbrio emocional
- Mais qualidade de vida no longo prazo
O cuidado com as nossas crianças não pode mais ser terceirizado para a indústria.
Não podemos mais fechar os olhos diante das evidências.
Precisamos urgentemente de educação alimentar rigorosa, regulamentada, fiscalizada e nacional.
O futuro do país depende, em grande parte, do que estamos colocando no prato dos nossos filhos hoje.
Por Dr. João Paulo Cristofolo Jr. | CRM 222189