Pesquisa revela metais tóxicos e aromatizantes perigosos em “vapes” vendidos no Brasil.

Estudo inédito detecta metais tóxicos e compostos aromáticos nocivos em cigarros eletrônicos vendidos no Brasil. Entenda os riscos à saúde.

Uma nova pesquisa realizada pelo Laboratório de Química Atmosférica (LQA) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) acende um alerta sobre os riscos associados aos cigarros eletrônicos descartáveis, também conhecidos como vapes. O estudo identificou a presença de metais tóxicos no líquido inalado antes mesmo de os dispositivos serem acionados, além de compostos químicos utilizados como aromatizantes que podem ser prejudiciais à saúde.

Os resultados preliminares, obtidos com exclusividade pela BBC News Brasil, revelam que todos os 15 vapes descartáveis analisados apresentaram concentrações elevadas de metais como cobre, estanho, níquel e zinco — níveis considerados muito acima do aceitável para qualquer substância destinada à inalação.

Contaminação antes do uso

De acordo com o químico Carlos Leonny Fragoso, responsável pelo estudo, a contaminação ocorre porque o líquido dos dispositivos descartáveis permanece em contato direto com os metais presentes nos circuitos eletrônicos. Essa interação química já é suficiente para contaminar o conteúdo inalado, mesmo antes do dispositivo ser ligado.

Em comparação, amostras de líquidos para vapes recarregáveis — vendidos separadamente da bateria e dos circuitos — não apresentaram metais tóxicos em níveis detectáveis. No entanto, os pesquisadores alertam que esses metais podem surgir após o líquido ser inserido no aparelho e aquecido, especialmente devido ao contato com componentes metálicos internos.

Compostos aromáticos e toxicidade

Além dos metais, o estudo detectou mais de 20 substâncias em amostras de vapes, das quais cerca de dez foram identificadas. Muitas são utilizadas como realçadores de sabor ou aromatizantes. Entre elas, a vanilina, o mentol e compostos tradicionalmente usados como aromatizantes de vela. A presença desses aditivos tem como objetivo tornar o vapor mais palatável, mas a inalação contínua dessas substâncias pode gerar efeitos adversos à saúde, principalmente quando submetidas a altas temperaturas.

Em testes laboratoriais com leveduras e células cardíacas de camundongos, todas as amostras analisadas desencadearam estresse oxidativo celular, um processo associado a inflamações e a diversas doenças crônicas, incluindo enfermidades cardiovasculares e respiratórias.

Vapes no Brasil: produto ilegal, mas amplamente consumido

Os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil desde 2009. Apesar disso, o consumo — principalmente entre jovens — é crescente. Estimativas oficiais são escassas, mas dados da Receita Federal indicam a apreensão de mais de 1,5 milhão de unidades apenas entre outubro e dezembro de 2023 no porto de Santos.

O formato dos dispositivos também evoluiu desde sua criação na China nos anos 2000. Hoje, variam entre modelos descartáveis, recarregáveis, com aparência de canetas, pen drives ou tanques. Todos funcionam aquecendo um líquido — que pode chegar a 350 °C — e transformando-o em aerossol para ser inalado.

As embalagens dos vapes costumam listar apenas quatro ingredientes: nicotina, aromatizantes, propilenoglicol e glicerina vegetal. No entanto, a análise da PUC-Rio e de outras instituições, como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), identificou substâncias não declaradas nos rótulos, incluindo octodrina — com estrutura química semelhante à de anfetaminas.

Riscos para a saúde e debate sobre regulamentação

Para a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e membro da Academia Nacional de Medicina, os vapes representam riscos superiores aos cigarros tradicionais. Segundo a médica, a concentração de nicotina pode ser até cem vezes maior nesses dispositivos, gerando dependência mais rapidamente — em alguns casos, em apenas cinco dias de uso.

A especialista também destaca a associação entre o uso de cigarros eletrônicos e o desenvolvimento de doenças pulmonares, incluindo enfisema, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer. Além disso, já existe uma condição clínica reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) chamada EVALI (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico), embora o Brasil ainda não possua registros consolidados sobre casos ou óbitos relacionados.

Dalcolmo é crítica do Projeto de Lei 5008/2023, que propõe a regulamentação dos cigarros eletrônicos no país. Segundo ela, os custos em saúde pública gerados por essas doenças superariam qualquer eventual arrecadação tributária obtida com a legalização da venda desses produtos.

Por outro lado, representantes da indústria do fumo, como a Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), argumentam que a regulamentação permitiria controle de qualidade e maior segurança ao consumidor. A entidade defende que a ausência de regulamentação contribui para o comércio ilegal e a entrada de produtos de baixa qualidade no mercado brasileiro.

(Com informações BBC)

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