Uma pesquisa conduzida por especialistas brasileiros revelou resultados expressivos sobre a hemodiafiltração (HDF), técnica considerada a modalidade mais moderna de terapia renal substitutiva. O estudo mostrou que o método reduz em 68% o risco de morte entre pacientes atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Batizado de BRIGHT-HD, o trabalho foi publicado em junho na revista Journal of Clinical Medicine e marca o primeiro registro nacional de evidências robustas de melhora de sobrevida com o uso da hemodiafiltração na rede pública.
O estudo
A análise reuniu dados de 369 pacientes tratados entre 2022 e 2024 em centros de diálise de São Paulo e do Vale do Paraíba. Entre eles:
- 321 pacientes realizavam hemodiálise convencional;
- 48 pacientes recebiam terapia por hemodiafiltração.
Mesmo após ajustes estatísticos para variáveis como idade, presença de diabetes e tipo de acesso vascular, o grupo tratado com hemodiafiltração apresentou mortalidade significativamente menor.
O estudo teve participação de especialistas da Universidade de São Paulo (USP), Associação Educacional Nove de Julho (UNINOVE), Fundação Lia Maria Aguiar e Nefrostar.
Entraves à expansão do método
Embora a hemodiafiltração já seja amplamente utilizada em diversos países, sua adoção no SUS ainda é restrita. Um dos principais problemas é a infraestrutura necessária para realizar o procedimento, especialmente no que diz respeito à qualidade da água utilizada — que precisa ser ultrapura, seguindo parâmetros mais rigorosos de controle microbiológico e de endotoxinas.
Atualmente, a RDC 11/2014, que regulamenta os serviços de diálise no Brasil, não estabelece diferenças entre os padrões de água exigidos para hemodiálise e hemodiafiltração. Na prática, isso dificulta investimentos direcionados e impede que a maior parte dos centros de diálise da rede pública implemente a técnica.
Impacto e necessidade de atualização
Diante dos resultados, os pesquisadores defendem que o país abra uma discussão urgente sobre a ampliação da hemodiafiltração no sistema público. Na avaliação deles, ampliar o acesso à técnica tem potencial para transformar a realidade de milhares de pacientes renais crônicos, oferecendo maior segurança, melhor desfecho clínico e aumento da expectativa de vida.
Para os especialistas, os dados do BRIGHT-HD reforçam a necessidade de revisar parâmetros regulatórios, adequar a infraestrutura e formular políticas públicas que acompanhem os avanços tecnológicos da nefrologia moderna.

